segunda-feira, 15 de outubro de 2012

CORDEL BRINCADEIRAS LIVRES PARA CRIANÇA VOAR

 
O cordel BRINCADEIRAS LIVRES PARA CRIANÇA VOAR é um projeto lindo, feito em parceria com a artista visual Myrna Maracajá ( http://www.myrnamaracaja.com.br/v2/ )  ilustradora de diversas editoras que agora abraça as publicações dos cordeis comigo.
 
Nosso primeiro cordel é  resultado de uma pesquisa voltada para as brincadeiras infantis. Um material de qualidade, em conta e inteligente para falar de história e de lazer com prazer!
 
Myrna assina as ilustrações e projeto gráfico do cordel, editado pela Editora Coqueiro.

Quem tiver interesse em adquirir, solicitar pelo e-mail: marciamaracaj@gmail.com

CHUVA SAGRADA

Bicicletada - ilustração de Valdinei Calvento - Cabelo



Palavras me chovem
E escorrem para mim

Uma a uma
Em gotas
Banham meu coração

Palavras-sementes
Palavras-presentes
Palavras-intuição

Palavras sagradas
Palavras-oração

E dessa chuva encantada
Recebo asas
Das palavras-passarinhos
 
 
sábado, 19 de março 19 de 2011

GÊNESES


Gênesis usava os tamancos da mãe para ir à escola. Andava pelas calçadas esburacadas da periferia.

Descia o morro. Atravessava a avenida. Tinha uma visão elevada das coisas a sua frente do alto dos tamancos que lhe conduzia.

Entrava sorridente na sala de aula. Toc toc toc faziam os tamancos nos pés de Gênesis na classe.

Gênesis era feliz. Desde criança ele sabia o que queria.



***



Texto apresentado no Recitata 2010.
 
 
terça-feira, 30 de novembro de 2010

MEU GALINHO

O Galo dos Fundos casa da 1


Alegre Patativa

Visita minha janela

É o galo que não tive
 
 
 
domingo, 12 de setembro de 2010

GATO MIA

 
 
Gato canta
Gato pula
Gato berra

Gato escreve
Gato toca
Gato pinta sets

Sete peles ele tem
Em sete vidas
Mil amores

É o gato manso ou fera
Adora a lua
Cores

O gato inventa suas asas
E ele voa!
Voa!!!

O gato agora voa
Gato agora passarinho

Voa passarinho
Voa!
 
 
 
sábado, 22 de maio de 2010
 

O VISITANTE


Na porta de casa
Prestes a entrar
Um visitante se aproximou
A testa a sangrar


Em confusão
Não dizia nada
Debatia-se no chão
Os olhos avermelhavam
Ai, meu Deus, que aflição!


 
Demonstrava temor
Convidei-o a ficar
Mediquei-o com amor
E a ele me dediquei a cuidar


 
Arrumei-lhe alimento
E acomodação
E a noite nos acalmou
Diante de sua exaustão


 

Pela manhã ouvi seus movimentos
Pensei: “vivo ele está”
E levantei-me da cama
Para logo trabalhar

  
Aparentando melhora
Acompanhei-o ao seu lar
E abri a caixa onde dormira
Para firme voo alçar

 Curado de seu ferimento
Bateu asas o pardalzinho
E agradecido foi para a árvore
Recebido por outro passarinho.



***

Desde criança amei gratuitamente os passarinhos. Tinha a sensação de que me ouviam, e de que comigo se comunicavam pelo olhar. Nos fitávamos por longos minutos, e depois desse diálogo silencioso e sutil eles levantavam voo. Quis muito voar com eles... O vento às vezes me desperta esse desejo antigo.

Ver uma gaiola me deprime, e com passarinho dentro, me tortura. E felicito-me em zelar pela liberdade desses serezinhos. Já boicotei muita armadilha prestes a aprisionar Sabiás, Rouxinóis... Soltar passarinho então, nem se fala!

Vejo os pássaros como crianças, seres lépidos, lindos e puros. Talvez, por isso, eles se aproximem de mim, visitem-me na janela de meu quarto, passeiem pela minha casa, deem ois nas minhas salas de aula, me acompanhem no trajeto de casa ao trabalho e vice-versa.

A mesma sorte tenho ao ser alvejada por seus cocozinhos, em minhas caminhadas matinais. E riu-me disso.

Legal é ter passarinho assim, solto. Cuidemos desses bichinhos.
 
terça-feira, 02 de março de 2010

ACRÓSTICO

Fonte: farm1.static.flickr.com/51/136206608_7e1027de...
 
 
Lendo folhetins através da janela do ônibus
Imagino os tempos daqui pra frente
Basta que feche os olhos
Estou a um passo de tanta coisa
Rio
Deito
Amparo a cabeça na janela
Distraio-me com as crianças na praça
E simples, como elas, voo no balanço alegremente.
 
 
terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PRESENÇA

Fonte: petragaleria.files.wordpress.com/2007/11/2007...
 
 
Era um fim de tarde. Passeavam pela rua, de mãos dadas, mãe e filha. Ambas sorridentes, a segunda cantarolante, saltitante, segura. A mãe: feliz. O tempo parecia que ia fechar. Mas aquela conversinha das duas segurava a chuva que estava por vir.
A vozinha de criança falante, que experimenta a liberdade de saborear as palavras sem o controle do regimento dos adultos, dirimia o rumo da prosa, com gestos envaidecidos, cheia de si. Dizia que gostaria de ganhar um salto alto de presente de Natal, o que causou riso ao senhor que se mostrava sempre sisudo, sentado naquela mesma esquina.
A falinha rouquinha acrescentava ao pedido uma roupa de princesa, e corrigia o fato do salto alto ser oportuno apenas quando ela crescesse. Então, uma moça que passava na mesma calçada da rua, solapando a inteligência da criaturinha tagarela perguntou-lhe onde estava seu pai.
Tão natural quanto qualquer outro assunto a menininha respondeu “Não tenho. Só tenho o pai do céu.” Surpreendida pela resposta e ainda mais pelo desconcerto da pergunta feita a moça silenciou e baixou os olhos após olhar a mãe da garotinha que lhe sorriu, entendendo o pedido de desculpas no olhar da interlocutora da filha, e sua pequena continuava o diálogo como se nada tivesse interrompido aquele instante entre a pergunta feita e a resposta dada.
Poucos minutos depois mãe e filha caminhavam de volta à casa, felizes, agora com um novo assunto, a moça simpática. A mãe orgulhosa pela presença de espírito da filha, a filha satisfeita com o passeio. E a moça? Como estaria a moça depois daquele breve e ingênuo diálogo, de onde se pode captar despretensiosamente a pureza de uma criança com a mais simples sinceridade?
Certamente a moça pudesse ter pensado que àquela criança faltava um pai, e que se pudesse presentear-lhe-ia no Natal com um. Seria um presente especial. No entanto, sua mãe sabia que a filha era completa e estava certa de que ela conhecia o seu pai, que está presente em todas as suas horas.
 
 
 
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009