CONVERSA DE MÃE PARA
FILHA
A criança assiste ao programa da TV, vidrada na historinha
sobre Jesus e a mãe lhe chama da faxina, pés dentro d’água, água a barulhar a
corrente líquida em movimento.
- Filha, vem cá. Precisamos
conversar. Você sabe por que comemoramos
o Natal?
- Por causa do nascimento de
Jesus.
- É o que ensinam, mas está tudo
errado. Agora vou te contar a verdade.
A criança olha atenta, de ouvidos
abertos para sua mãe.
- Jesus, esse homem branco, olhos
azuis, que dizem ter nascido nesta data, não é nada disso, nem nasceu nesse
período.
- Não, mamãe?
-Não. Jesus, na verdade, era um
homem moreno. Comum. Do povo. E, se você
observar a história, era um homem político, contestador, perigoso para os
poderosos. Informava o povo, conscientizava sobre seus direitos. Por isso era
especial. Os milagres que operava era na mente das pessoas. Ele renascia os
mortos para a vida, mas não os levantando de túmulos, e sim ajudando as pessoas
a deixarem de se sentir mortas e passarem a AGIR como seres atuantes, VIVOS.
- Hum...( a menina ouvia a
explicação aguardando seu momento de questionamentos)
- Essa data de nascimento, essa
história de milagres, tudo isso é invenção. Invenção de quem quis destruí-lo.
Usaram a imagem do homem, o que eles perseguiram, condenaram e mataram, como
todos os que não seguiam as leis. Não foi só ele preso a prego na madeira,
pendurado, muitos outros morriam assim. Milhares. Mas Jesus foi diferente. Os
poderosos ganham à custa dele, e até hoje sustentam a farsa, alimentam o mito.
Jesus passou a ser um santo, sua mensagem original foi transformada em palavra
para acalmar ânimos, abrandar corações... quando ele falava de coisas
maiores... Assim fazem com os homens, homens no sentido de humanidade... Somos
apagados pela história, reinventados, já não somos nós...
- Se ele não nasceu nessa data,
então por que fazem o Natal?
- Essas invenções existem para
controlar o povo. São datas que geralmente estão ligadas à religião e ao
consumo, tudo em torno do poder. A mensagem de caráter solidário, humanitário é
um detalhe. Essa mensagem, que deve ser tomada como uma prática diária, a de
ajudar o próximo, tratar a todos como gostaríamos de ser tratados, diminuir as
diferenças, melhorar o meio ambiente de forma que todos usufruam dele com
cuidado, nada parece fazer sentido. A ajuda ao próximo faz parte da agenda, as
pessoas comentam sobre isso como um bônus para sua vida medíocre e como forma
de status. O humano se perde. Há fartura na mesa de todos, menos dos mais
necessitados.
- Jesus não gostaria de ver isso,
né, mamãe?
- Jesus repartiu o pão e dividiu
o vinho, e multiplicou o que tinha com o pouco que havia. Isso significa
cooperativismo, pensar coletivamente, solidariamente. Significa que ele estava
inserido no povo, vivendo com o povo, sentindo com o povo as suas necessidades.
Ele não passava por ali e deixava só a palavra, ele agia, ele ensinava-lhes com
ações, compartilhava saberes, era um educador.
E sobre Jesus ver e saber de
tudo, Juju, ele não é Deus. E Deus não é um homem. Deus é uma força criadora, que pode ser
chamada por nomes diferentes em cada povo. Não há um só Deus, mas uma só força
que fala de uma só coisa. Quando oramos é para essa força, cuidadora, criadora,
justa, que dá e tira, que está em tudo porque está na gente e devemos saber
equilibrá-la.
Este ano o nosso Natal será
diferente de todos os anteriores. Agora que você sabe um pouquinho quem foi o
homem Jesus, e do Natal, vamos viver essa data como uma reunião de família para
nos reencontrarmos e falar de nós, das alegrias e dificuldades, e nos abraçar e
matar saudades. Não vamos comemorar o nascimento de Jesus.
- Mas vai ter presentes?
- Sim, mas vamos repensar esses
presentes com o passar dos anos. Sua avó vai lhe presentear com o que você mais
gosta. Eu e sua tia já lhe presenteamos ao longo do ano com o necessário.
Precisamos diminuir despesas com o supérfluo. Lembre-se que não podemos ser
engolidos pelo capitalismo, sabendo viver consumindo o mínimo.
- E a festa de Natal?
- Faremos o jantar, vamos
continuar confraternizando como antes. Não deixaremos de desejar felicidades a
todos e nos sentirmos felizes também, como em todos os dias... Só que a partir desse esclarecimento, você não
tratará Jesus como antes. E é bom parar e refletir sobre tudo o que falam dele
para você. Vamos conversando a respeito sobre todos os homens e mulheres
apagados pela história e sobre os seus ensinamentos, modificados e
transformados em produtos de consumo. Uma conversa longa, teremos tempo para discuti-la.
-Tá certo, mamãe. Posso assistir
meu programa, agora?
- Pode. E vá pensando sobre tudo
isso enquanto vê esse Jesus aí.
- Tudo bem.
E a água lavando o chão limpava o
ambiente...
sábado, 22 de dezembro de 2012
SEMPRE DELA
Ela brinca
Eu trabalho
Ela fala
Eu traduzo
Ela age
Eu observo
E assim eu
poetizo
Seu riso é
elemento
Que disso tudo
cataliso
domingo, 10 de abril de 2011
BIA MARACAJÁ
Ao amanhã
Ilustrações de
Cabelo
Ave
pequenina
Que
mia
Que
pia
Saltita os passos
E os contos de fadas –
Ensaios para voar
Ave criança
Que em sua infância
Seu mundo é o brincar
Cantarola
Rodopia
Minha ave
solta
Filha
minha
À noite se
enrosca
Nas minhas asas
Aconchego do
lar
Gatinha que canta
Com os
passarinhos
É Bia
Maracajá
quarta-feira, 06 de abril de 2011
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